12 METROS DE LANDSCAPE: ENRIQUE RADIGALES

Overview

 Enrique Radigales expõe uma nova proposta de pesquisa dos limites e relações entre o analógico e o digital. Nos convida a uma viagem na qual o olhar fica restringido não só pelo formato mas também pela concretização das obras com técnicas digitais.

“12 metros de landscape 06022012”, doze metros de papel Hahnemühle impressos em tinta pigmentada e pintado com acrílica, descreve uma orografia composta pelas imagens obtidas ao buscar a palavra “landscape” (paisagem) no Google. Todos os resultados – quadros barrocos, cartografias, arquiteturas contemporâneas, montanhas, rios, florestas, fotografias estereotipadas ou de difícil ligação com o conceito da paisagem – estão unidos por um mesmo padrão: as 256 cores da paleta digital comum a qualquer sistema operativo. De forma paralela, a obra se expande na internet no site da mesma (12 metros de landscape HTML version), onde combinações aleatórias de buscas se sucedem, mudando em cada visita a escala e os detalhes selecionados, criando assim uma nova obra para cada usuário.

O processo completo nos leva em um percurso que confronta e cria tensão com o real e o inabordável. A paisagem infinita fica limitada na própria experiência visual. O natural é transformado fisicamente e virtualmente, se distanciando da imagem tecnológica supostamente neutral. A ação de pintar se converte em um ato transgressor.

Na série de pinturas Landscape + Ruins (Paisagem + Ruinas), a imersão na paisagem digital continua através da intervenção. Segundo padrões computacionais, Radigales pinta com tinta acrílica sobre paisagens românticas, introduzindo no planeamento computacional o gesto, a textura e sobretudo a lentidão. Um componente desestabilizador entre a tradição e a inovação que exige um olhar devagar e atento, oposto ao bombardeio de informação que a internet nos propicia.

A ideia de obsolescência do objeto tecnológico (a rapidez com que os equipamentos ficam defasados) e a criação de uma arqueologia dos mesmos, é também outra das constantes da pesquisa de Radigales sobre diálogos entre a tradição e a inovação. Na instalação “Skyline”, grupos de cinco peças de cascas de madeira são gravadas a laser com uma linha de horizonte e a ordem em linguagem Html de “skyline”, apresenta essa dualidade e imagem low-fi.

Por último, no site-specific a “A janela de Rafael” o artista realizará com barro tingido na parede da galeria uma intervenção pintada que reproduz a tela do computador do filosofo e escritor espanhol Rafael Argullol. Essa translação marca o interesse de Enrique pelo arquivo e a tendência de estandardização da realidade através do uso diário da computação. Argullol é conhecido por seus textos críticos e sua relação com a paisagem romântica, sobretudo no texto “La atracción del abismo” (1984, Ed. Destino, Barcelona) onde apresenta o confronto da natureza e o homem e a representação resultante, assim como o desejo, solidão e pavor que produz, como caminho para desenvolver uma linha evolutiva da humanidade, convertendo-se em una das referências principais na abordagem desse gênero por parte de Radigales.

Argullol pertence ainda a uma geração pre-computacional, sendo exemplo ao transito entre duas eras, e serve a Radigales para refletir sobre esse convívio com a história e as novas tecnologias, criando uma ponte entre gerações precedentes e que viveram na beira dessa era tecnológica, as tradições e nossa nova estrutura organizacional.

 

 
 
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